Mil e uma palavras para conhecer antes de crescer...

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Bruxices

O gato entrou sorrateiramente na Biblioteca. A Bruxinha mal se via no meio de montes de folhas espalhadas no chão.
- Bruxinha! O que é que estás a fazer?
- Estou a fazer o esquisso de uma história.
- A história para o Sabe mais k(que) os teus Pais?
- Sim.
- Mas já a devias ter acabado há uma semana. Estás atrasadíssima.
- Eu sei… Mas não é fácil inventar histórias. Leva tempo.

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- Bruxinha! O que é que estás a fazer?

- Mas não tens mais tempo. Sabes que dia é hoje?
- Sei, segunda-feira.
-Dia do mês?
- ?
- Dia 31 de outubro...
- 31 de outubro?! É Dia das Bruxas! Ai que me esqueci… com isto de estar a escrever a história. Não tenho nada preparado. Por favor, tens de me ajudar. Deixa-me acabar de escrever e enviar a história para o Paulo e vamos inventar qualquer coisa.
- Assim a correr?
- Sim, com imaginação podemos inventar tudo!
- Nem tudo. Não podes inventar uma máquina do tempo nem de dar amplexos.
- Do tempo não mas de amplexos não é preciso. Bastam dois braços e um grande coração! - A Bruxinha agarra no gato e aperta-o num abraço.
- Pronto, pronto, larga-me, não me apertes. Põe-me no chão! Termina lá a história.

- Ora, onde é que eu ia?

A Francisca perguntou à mãe se podia ir ao Parque. A mãe, concentrada a fazer as Palavras Cruzadas no jornal, acenou que sim e disse com bonomia: “vai lá, não te esqueças do chapéu e não te demores muito, temos de começar os preparativos para a festa.”
A Francisca disse “até já” e saiu aos saltinhos. Paco Lobo, o cão, que dormia no tapete da entrada, acordou e foi atrás. Mal chegou ao Parque, correu para os baloiços e começou a baloiçar. Ao fim de algum tempo reparou que o escorrega estava a desaparecer como se estivesse a ser apagado com uma borracha. Que estranho!
E não era só o escorrega, as árvores estavam a ficar sem copas e a água do lago tinha desaparecido... Todas as coisas no parque estavam a ficar gastas, sem cor, apagadas!
O Paco Lobo ladrava assustado. A Francisca também se sentia um pouco assustada. Deixara de estar no meio do Parque Verde e estava agora no meio de… de nada… Não havia nada, nada, nada… nada de nada à sua volta. Parecia um lugar saído das histórias fantásticas dos livros.
Estava na Terra do Nada! Quem é que teria inventado um lugar assim? O lugar de todas as dificuldades. Quando não há nada onde pomos os pés? E se descobrimos onde pôr os pés, como sabemos se já andámos muito ou ainda pouco? Quando não há nada como sabemos ao andar para onde vamos? Quando não há nada torna-se tudo muito difícil…
A Francisca não sabia se estava há muito ou pouco tempo ali naquele lugar. Haveria Tempo na Terra do Nada?

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Não havia nada, nada, nada...

Ali estavam eles, uma menina e um cão, perdidos no meio de nada… Um cão? Onde estava o cão?
- Paco! Paco!! Pacoooo!!! - chamou ela, preocupada.
O cão estava atrás dela, muito assustado, também ele estava a desaparecer! A própria Francisca estava a apagar-se… Os bandós do seu cabelo encaracolado já não estavam tão loiros. As calças de ganga azul estavam a desbotar e as sapatilhas vermelhas estavam a ficar cinzentas.
A Francisca respirava rápido e com força, como quando temos medo. Sabem como é, todos já sentiram medo. Respirava rápido… Respirava. É verdade respirava! Se respirava, havia ar na Terra do Nada!
Um lugar cheio de ar é ainda uma Terra do Nada? Parece que sim… Ar e mais ar, apenas ar era o que ela encontrava à sua volta. Foi então que a Francisca teve uma ideia. Parecia uma boa ideia. Meteu então a mão no bolso das calças e tirou um pedaço de lápis. Não era um lápis muito grande, não dava para muito… Mas deveria dar para desenhar qualquer coisa.
Um esquisso de qualquer coisa parecia ser uma solução… Mas onde iria desenhar? Onde? Se só havia ar… Um círculo no ar… Hum… Parecia uma boa solução. Quando começamos um círculo ele vai acabar no lugar onde o começámos. Perfeito! Um círculo no ar. Um círculo perfeito.
A Francisca desenhou um grande círculo azul, no ar.
E depois passou através dele para outro lado, no exato momento em que estava quase, quase a desaparecer. E do outro lado da Terra do Nada encontrou um chapéu gigante com uma grande gebada e um grande barulho…

Um grande barulho? - pensou a Bruxinha - Mas de onde veio o barulho? Eu não inventei nenhum barulho na história…

Não era mesmo nenhum barulho da história era mesmo lá em casa. A Bruxinha abriu a porta da Biblioteca e espreitou… O barulho vinha do fundo das escadas. À entrada da porta estava um senhor muito gordo de fato e gravata que gesticulava e perorava gravemente. No chão estava um chapéu com uma gebada que o senhor de fato e gravata tinha feito ao pisá-lo com os seus sapatos muito engraxados e brilhantes. A Bruxinha aproximou-se.
- Bom dia o que deseja?
- Bom dia, menina. Ai, ai… deixe-me descansar um pouco! Eu sou o Presidente da Câmara! Tive de vir a pé desde a Câmara Municipal … O Ministro das Finanças diz que há uma grande crise no país e já não posso andar de carro, só a pé ou de bicicleta. … Ai, ai, que cansaço! Que difícil é tratar de uma cidade sem dinheiro. São problemas e mais problemas. Ontem desapareceram as lâmpadas, hoje é o Parque da cidade que está a desaparecer…
- A desaparecer? Que estranho.
- Estranhíssimo!

- Bruxinha! Bruxinha, acorda! Voltaste a adormecer sobre a história!

- Ai, a história! Já devia ter sido enviada. Que dia é hoje?
- 31 de outubro.
- 31 de outubro! É Dia das Bruxas! E ainda não tenho nada preparado. Por favor! Tens de me ajudar. Depressa, traz os nossos chapéus, as crianças devem estar a chegar!

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A campainha tocou.
- Devem ser as crianças! E os doces? Onde estão os doces?
- Abracadabra! - disse a Bruxinha.
E do chapéu do gato, como se fosse um vulcão, começaram a saltar peixinhos doces de várias cores e sabores.

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(continua)...

Texto: Sílvia Alves
Ilustrações: Maria del Toro

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