Mil e uma palavras para conhecer antes de crescer...

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Regressos

-Então? Já estás pronta?
-Só mais um bocadinho…
-Miúdas… Bruxas e não bruxas são todas iguais… Nunca ficam prontas a horas.
-Bem e tu que passas o tempo a cofiar o pelo… Não há animal mais vaidoso que um gato!
-Não é vaidade, é higiene… Coisas bem distintas.
-Estou pronta.
-Já não era sem tempo!…

Ilustração de Maria del Toro

Umas largas horas depois o Gato e a Bruxinha estão de regresso ao lugar onde há um ano…

“Era uma vez uma casa… Num país longe, numa cidade pequena, numa rua comprida e estreita, há uma casa. Uma casa grande e antiga, cheia de janelas com portadas de madeira e altos telhados. Há quem diga que, em tempos antigos, era morada de uma simpática família. Há quem diga que era uma família estranha. Conta-se que, há uns anos, saiu de lá uma moça, com ar de bruxa, levando uma vassoura na mão, uma mala de viagem na outra e um gato debaixo do braço… Viram-na, pela manhã, sentada na paragem do autocarro e depois… Desapareceu. Ficou a casa de janelas fechadas. Diz quem passa, naquela rua comprida e estreita, que parece uma casa assombrada! Dizem-se muitas coisas sobre casas antigas, grandes e abandonadas. Sobretudo em pequenas cidades onde as pessoas ainda falam umas com as outras. Dizem que, há uns dias, ao lusco-fusco, naquela rua comprida e estreita, alguém viu uma moça, com ar de bruxa, levando uma vassoura na mão, uma mala de viagem na outra e um gato debaixo do braço. Nem sempre se pode confiar no que dizem as pessoas mas desta vez têm razão.(…)”

Ilustração de Maria del Toro

Há um ano quando chegaram não conheciam ninguém. Agora todos se conhecem e ninguém se estranha. A Bruxinha e o Gato passaram pela D. Aurora para comprar pão, disseram ao senhor Alfredo que podia voltar a reservar o jornal e as revistas, levaram ovos e figos na loja da menina Palmira e disseram bom dia ao senhor Aníbal, o canalizador, contentes de não precisarem dos seus serviços…

Ao chegarem a casa a Bruxinha abriu o correio e de lá caiu um monte de cartas e postais. Ao apanhá-los repara num deles e exclama:
-Gato, enviaste para nossa casa o postal dos nossos amigos!
-A sério? Olha, pois foi… Enganei-me a colocar a morada.
-Mas quantas vezes eu te disse que o remetente, quem envia, se coloca do lado esquerdo e do lado direito se escreve o nome do destinatário, de quem vai receber a carta? Tu até me perguntaste a confirmar.
-Lembro-me bem. Foi no dia 13 de agosto, dia do canhoto. Mas tu sabes que faço confusão com a esquerda e a direita… Bem te disse que era melhor mandar um e-mail… Cartas e postais são coisas antigas.
-Um e-mail não é a mesma coisa! E toda a gente gosta de receber cartas e postais, mesmo antigos. Olha, vou agora mesmo ao correio, enviar o postal ao Paulo, para que chegue aos nossos leitores ainda antes das aulas começarem. E vê se não te esqueces para a próxima…
-Não, não esqueço… Remetente à esquerda, destinatário à direita; remetente à esquerda, destinatário à direita¸ remetente à esquerda, destinatário à direita; remetente à esquerda, destinatário à direita…remetente... destinatário…

Ilustração de Ana Teresa Pereira
Ilustração: Ana Teresa Pereira

Remetente:
Bruxinha Circe
Destinatário:
Paulo Freixinho e leitores do Sabe Mais

Queridos leitores do Sabe Mais…

Eu o Gato e a Bruxinha, numa terra distante, a umas largas milhas de vassoura de distância, rodeados de verde e debaixo de um céu cerúleo, chegámos à última semana de férias.
A Bruxinha anda ainda por aí a tomar banho de mar e rio a tentar apanhar todo o frol e mareta que possa antes do fim do verão.
Eu estou sossegado a ouvir o marulho a disfrutar o refrigério da sombra no meio da canícula, este tempo não é para gatos…
Fiquei encarregue de vos escrever um postal e dos vos mandar uma braçada de saudades.
Até breve!
Beijinhos, 
Gato e Bruxinha

Texto: Sílvia Alves
Ilustrações: Maria del Toro 

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