Mil e uma palavras para conhecer antes de crescer...

sábado, 22 de dezembro de 2012

Correio pelo Natal

- Tocaram à campainha. Não era o carteiro? - pergunta a Bruxinha.
- Não. – responde o Gato.
- Tens a certeza? Eu estava à janela e pareceu-me vê-lo.
- Não era. O rapaz que viste tem o cabelo curto, o nosso carteiro tem cabelos compridos, é hirsuto. Era o Henrique, veio entregar lenha.
- Pois, tens razão.
Passado um longo bocado a Bruxinha pergunta novamente:
- Já foste ver o correio?
- Mas que coisa é essa de me perguntares pelo correio a toda a hora? Sou sempre eu que respondo às cartas… Tu és mais de mail. O que se passa?
- Estou à espera de uns livros.
- De livros?! - estranha o Gato.
- Sim, livros qual é o espanto?
- Nenhum. Mas recebemos tantas vezes livros, vais tantas vezes às livrarias… Não costumas ficar num nervoso feérico, por causa de um livro.
- Este é especial.
- Não se vende em livrarias?
- Sim, mas por agora ainda não.
- Vem de longe?
- Não, nem por isso. É um livro especial.
- Sim, já o disseste! É então um grande livro?
- De tamanho médio…
- Não me referia ao tamanho. Referia-me ao conteúdo.
- Não sei, quero dizer sim, quem sabe.
- Tu não estás boa pois não? Não sabes nada da história de um livro que esperas, irritantemente, há semanas?
- É uma história sobre o tempo.
- O tempo dos relógios ou o tempo meteorológico?
- Verás quando chegar.
- Ao menos sabes quem é que escreveu essa estapafúrdia história?
- Sei…
- Ai, ai… Não te pergunto mais nada. Vamos ao que interessa. Tu já escreveste a história deste mês? Já pediste as ilustrações à Maria?
- Não, ainda não.
- Onde andas com a cabeça? – pergunta o Gato mas a Bruxinha nem responde. Vai para a janela e fica a olhar o horizonte.

“Eu sou um gato… Nós, os gatos, somos bichos muito pacientes. E gosto muito da minha amiga Bruxinha mas, ultimamente, é assim que ela anda: aérea, passeando nos corredores para lá e para cá. Responde como se arrancasse as palavras à força.”

Finalmente tocaram à campainha e um senhor de uniforme entrega uma caixa de aspeto tanado. A Bruxinha muito ansiosa desembrulha e fica a olhar: um livro.
- Não vais ler? - pergunta o Gato.
- Mais logo. – responde a Bruxinha.
- Mas estavas cheia de curiosidade.
- Estou a olhar para a capa.
- Estás já há 23 minutos a olhar para a capa. O que te falta ver?
- A contracapa.
- E agora? Vais abrir?
- Estou a ver a lombada, o peso, as cores, o cheiro... vê como o papel deste livro é macio.
- Por meus bigodes de gato, é um livro! Não é uma obra de arte.
- É bonito. Um livro bonito também é uma obra de arte. Tem umas ilustrações tão bonitas!
- Quem fez as ilustrações?
- O Pierre.
- E quem é o Pierre?
- Pierre Pratt. Um canadiano que vive em Portugal.
- E então não havia nenhum português? Com tanta falta de emprego andam a contratar estrangeiros? – pergunta o Gato um pouco irritado.
- Então se ninguém contratar estrangeiros como é que trabalham os portugueses que vão para os outros países?
- Pois, não estava a ver o problema desse ângulo. – diz o gato aproximando-se do livro enquanto a Bruxinha o folheia.
- É bonito, sim. Mas não achas que falta aí um gato? Já vi as ilustrações por todo o lado e não vi nenhum gato. Nós, os gatos, costumamos estar em todo o lado. Eu até devia receber direitos de autor por cada vez que alguém me mete numa história ou num desenho.
- Ah, ah. Essa é boa. Já agora nós as bruxas também.
- Então e agora vais ler?
- Vou enroscar-me ali no sofá e ler em silêncio. Leio depois para ti.
- Tu devias era estar a escrever uma história!
- Devia, devia…
- Andamos tão atrasados…
- Tenho andado sem vontade de escrever…
- O Paulo está a ser muito indulgente. Mesmo assim acho que ainda vai sobrar para mim.
- Fazias isso por mim, querido gatinho? Fazias?! Escrevias a história deste mês?
- A de novembro dizes tu? Um mês que já lá vai… agora que nem migalhas de santoro restam já.
- Gatinho anda lá. Prometo que te recompenso depois.

Isto aconteceu antes do almoço. A minha amiga Bruxinha ficou enfeitiçada com um livro novo que chegou e agora estou eu aqui no meio de livros e papel a embrulhar os livros que serão as nossas prendas de Natal para a família de bruxas e bruxos espalhada por esse mundo fora. Estou tão atrasado. Tenho de estugar as patas para pôr tudo no correio a tempo. Vou começar por este:

Livro de António Mota com ilustrações de Paulo Galindro

“Histórias às Cores”, do António Mota e ilustrado pelo Paulo Galindro. Mas onde é que o António Mota estava com a cabeça para chamar Bernardo ao cão e Tomás ao gato, o contrário tinha mais lógica? Digo eu que sou um gato e não gostava de me chamar Bernardo.
Mas olha, esta história, “A Caixa Misteriosa”, é bem gira… Mas afinal o que estava dentro da caixa? Que curiosidade! Nós os gatos somos muito curiosos. Os leitores também, imagino.

- Bruxinha! E se lançássemos um concurso de histórias a partir deste conto do livro “Histórias às Cores”, do António Mota? …Não é boa ideia? Podíamos oferecer prémios aos melhores textos… Bruxiiinha? Ouviste o que eu disse?
- Sim, sim, sim.
- Sim o quê?
- Sim ouvi. Sim, é uma boa ideia. Sim, vamos oferecer presentes aos nossos leitores.
Tenho de ser eu a fazer e a decidir tudo… Como se eu tivesse uma ‘Fábrica do Tempo’! Ai, ai… A história do António é assim:

"A caixa misteriosa"

“O Miguel descobriu que o sótão da casa do bisavô Serafim é um lugar extraordinário. (…) gosta muito de ir para lá fazer de conta que é um explorador. (…) Uma vez, o Miguel descobriu num canto do sótão, junto de um berço antigo, uma caixa pequenina, de madeira, pouco mais comprida que a sua mão. Tentou abri-la, mas não conseguiu. - Mistério! Há aqui qualquer coisa muito bem guardada! – pensou o Miguel segurando a caixa. Desceu do sótão e deu voltas e mais voltas à caixa, mas não conseguiu abri-la. - Essa caixa pertenceu à tua bisavó Maria. A chave que abre esta caixa, está no meu quarto, na minha cómoda, dentro de uma caixinha de prata, na primeira gaveta, do lado esquerdo. Podes ir buscá-la. O Miguel lá foi(…) a chave, que era minúscula, e estava agarrada a uma fitinha azul (…). O avô pôs-se a olhar para a caixa e não foi capaz de usar a chave. É que na caixa, junto da fechadura, havia um pedacinho de cartão a servir de etiqueta. No cartão estava escrito: Esta caixa pertence a Maria Faia. Por favor não a abra. Muito obrigada. - É melhor não abrir! Temos de respeitar a vontade da bisavó. Concordas? – disse o avô. O Miguel concordou. E foi arrumar a chave e a caixinha na cómoda do quarto do avô. Agora não pensa em mais nada: O que é que estará guardado naquela caixinha de madeira, pouco mais comprida que a sua mão?” (António Mota).

Estou roído de curiosidade!

Aqui fica queridos leitores do ‘Sabe Mais’ o desafio: leiam, releiam, pensem, imaginem, sonhem, escrevam e enviem-nos até final de janeiro.
O que poderia estar dentro daquela caixinha?

Do livro Histórias às Cores, de António Mota

Os recheios mais criativos vão receber um presente.

E agora vou continuar a cortar papel e fitas e fazer embrulhos…
Beijinhos doces do Gato e Boas Festas para todos!

Texto: Sílvia Alves
Ilustrações: Maria del Toro (em breve)

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